Memória da Comunicação

Sérgio Silva foi um marco do Rádio Paranaense

O radialista e produtor Sérgio Silva morreu aos 71 anos em Curitiba, cidade em que teve várias décadas de trabalho. Veja abaixo a publicação da Rádio Educativa em homenagem a ele.

Ontem, às 19:30 horas, fez-se o vazio. Tristeza sem fim. Deus silenciou Sérgio Silva, esse cara que é música pra mim, amado por todos, referência do rádio, de nossa música, teatro, da cultura brasileira.

“É em meio a uma tristeza devastadora que comunicamos a você, ouvinte da rádio Paraná Educativa, a morte de Sérgio Silva. Uma das vozes mais conhecidas e importantes do rádio paranaense nos deixou às 7 e meia da noite desta quinta-feira (25), aos 71 anos, vítima de uma parada cardiorrespiratória. Sim, o rádio do Paraná está de luto.

O nosso Serginho reunia capacidade, criatividade, cultura e generosidade. Tudo cabia naquele ser afável, carinhoso, inquieto e de bom gosto invejável, que o levou a ser conhecido e admirado, seja na apresentação, locução, na produção, ou na programação musical. Sua poesia ao viver era dividida com seu irmão, o também já falecido Silvio de Tarso.

Por isso, o que morre com Sérgio Silva é uma parte do rádio e da cultura do nosso estado. Sua voz grave e precisa foi ouvida pela primeira vez nos anos 1950, no auditório da Rádio Clube Paranaense, a PRB-2. O futebol, a música e a religião eram três de suas paixões.

Ele cobriu a Copa do Mundo de 1986, no México. E na segunda-feira pós-futebol, não poupava desfeitas aos jogos ruins do Paraná Clube, seu time de coração após a fusão entre Pinheiros e Colorado.

De 1973 a 1980, apresentou, em parceria com o jornalista Aramis Millarch, o programa “Domingo Sem Futebol”, em que realizou entrevistas históricas com Elis Regina, Vinicius de Moraes, Toquinho, Taiguara e Gonzaguinha. Sérgio era um dos bambas.Também era da vida e do palco.

Como ator, apresentou-se pela última vez em 2017, na peça “O Canto do Cisne”, de Tchekov. Sérgio viveu o personagem Vassili, que com ironia e humor refletia sobre o papel do teatro na sociedade. A expressão “canto do cisne”, aliás, surgiu a partir da crença antiga de que um cisne, quando morre, canta uma bela canção.

Sérgio Silva era da vida e da música. Na redação da Paraná Educativa, era comum vê-lo ligar um bolero antigo em seu computador e tocar um violão imaginário. Na adolescência, Sérgio tocou em bares de Curitiba. Sempre apoiou e incentivou a produção musical do estado, participando ativamente de vários movimentos.

Deu seus pulos como compositor, e escreveu músicas como “João Ninguém” e “Rei da Criação”, em parceria com Jairo Carvalho. Sérgio era da palavra. Poucos apresentadores e locutores tinham tamanho conhecimento de causa e jogo de cintura para lidar com quem ignora as incertezas do mundo. Menos ainda tinham uma memória tão privilegiada. Sérgio Silva falava de supetão nomes de arranjadores de discos, ou o ano de lançamento de alguma música.

Sérgio era fã das vozes femininas. Da MPB não complacente. Do rock revigorante. E de qualquer novidade que lhe fosse apresentada e que suplantasse a sua régua crítica, sempre mais consciente do que detratora. Scala FM. Difusora Ouro Verde, Rádio Caiobá, Rádio Independência, Rádio Atalaia, Rádio Colombo. Todas elas tiveram, em algum momento, a voz de Sérgio Silva em seus microfones. Informando, cultivando, esclarecendo, reportando.

Em mais de 20 anos de Paraná Educativa, Sérgio Silva foi apresentador dos programas Brasil e Companhia, Serestas Brasileiras, Grandes Maestros e Suas Orquestras Maravilhosas, Coisas Nossas, Reserva Especial, Brasil de Todos os Cantos, Chiclete com Banana e Damas na Noite. Foi companheiro de conversas inesquecíveis.

De aulas de MPB. De causos impagáveis que só quem sabe aproveitar a vida passa adiante. Sérgio mesclava propriedade e improviso. Rigor e despretensão.Já no fim de sua jornada, fazia questão de ir até a rádio mesmo na cadeira de rodas, com seu bom humor intocável. Brincava que dava seta ao estacionar em sua mesa. Pedia meio copo de café com adoçante. Ligava uma música linda, e começava a compartilhar histórias de vida, reflexões e humildade.

Vá em paz, caro amigo. O velório e o enterro de Sérgio Silva acontecem na manhã desta sexta-feira, em cerimônia reservada a alguns familiares devido às restrições sanitárias impostas pela pandemia.

Clique aqui para conhecer o grupo Memória do Rádio Paranaense, criado por este portal.

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